Fui e, Voltei logo.

 Fui destacada no sábado para ir zelar pelo mesmo doente paliativo de sexta feira, cheguei cedo e estacionei à porta, passados 15 minutos veio um homem que eu já tinha visto sair e voltar a entrar dentro da casa antes, abeirou-se do meu carro e perguntou-me se eu tinha algo a ver com as pessoas que viviam naquela casa de onde ele tinha acabado de sair, (eu até tinha pensado a primeira vez que o vi que ele era um dos enfermeiros apesar de achar estranho ele estar sem uniforme). Eu respondi que sim que era a enfermeira que ia cuidar do doente durante a noite. Ele entretanto apresenta-se como sendo o filho do dito doente e que o mesmo tinha falecido há poucas horas. Eu levei alguns segundos a encaixar a informação no meu cérebro. dei as minhas condolências ao individuo pela perda do seu ente querido e ao mesmo tempo disse que a minha empresa não tinha sido informada sobre o sucedido visto que a mim nada me disseram e eu estava ali para cumprir com o meu horário de serviço, disse de seguida e ao mesmo tempo que iniciava a ligação, que ia ligar à minha empresa e confirmar o sucedido, a minha chefe disse-me que tinha acabado de receber o telefonema quando eu já devia ter saído de casa e que ela estava apenas à espera que eu parasse o carro para me telefonar e informar sobre o sucedido, perguntei se a morte tinha sido confirmada pela enfermeira distrital, eu disse que não sabia pois que tinha tal informação, disse-lhe que eu tinha chegado 15 minutos mais cedo do que o habitual e que durante aqueles 15 minutos eu não tinha visto ninguém a entrar ou sair da casa à excepção do filho que veio ter comigo para me informar do falecimento do seu pai. Ela disse-me então, para eu preencher O formulário de terminação precoce do pacote de cuidados paliativos, e ir para casa. E informou-me também que eu iria receber o salário completo visto que eles foram alertados depois de eu já ter saído de casa e ir em direção ao local de trabalho.

Alguns encaram a morte como algo muito triste, eu encaro a morte dentro de certas circunstâncias, como uma libertação, neste caso estou a falar de cancro, ao longo destes sete anos em que trabalho na área da saúde, tive vários doentes com cancro do pancreas, fígado, pulmões, intestinos, próstata etc. mas este meu último doente foi o primeiro que eu vi com cancro na bexiga. para estes doentes a morte é libertação do sofrimento, da total perda de dignidade apesar de nós, enfermeiros, médicos, auxiliares etc. fazermos de tudo o que está ao nosso alcance para manter e dar todo respeito, conforto e dignidade ao nosso paciente, os médicos receitando drogas fortíssimas que amenizam as dores agonizantes ao doente mas que o transformam  num zombie semi vegetativo e daí a falta de qualidade de vida e de dignidade...

O meu paciente partiu deste mundo na mais absoluta paz e abraçou a liberdade total que a morte lhe deu

  





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